Prédica: Colossenses 4.2-6
Autor: Ricardo Nör
Data Litúrgica: 6º. Domingo da Páscoa (Rogate)
Data da Pregação: 08/05/1988
Proclamar Libertação – Volume XIII
l – Leitura do texto
a) na tradução de Almeida
V. 2: perseverar na oração: orar
V. 3: suplicar: interceder
objetivo da intercessão: – para Deus abrir porta à palavra
– para falar do mistério de Cristo
qual é o mistério de Cristo?
falar do mistério de Cristo leva à prisão!
V. 4: falar de Cristo é exigência: devo fazer
V. 5: o que significa agir com sabedoria?
quem são os de fora?
como aproveitar as oportunidades?
V. 6: palavra agradável: – temperada com sal!
para saber como responder!
b) na tradução da Linguagem de Hoje
V. 2: perseverar = continuar firmes
ações de graça = orar agradecendo a Deus
V. 3: que Deus abra porta à palavra = a fim de que Deus nos dê boa oportunidade
para anunciar a sua mensagem
V. 4: o que importa é que o segredo de Cristo seja bem conhecido!
V. 5: os que são de fora = os que não crêem
c) no texto original
V. 2: ações de graça = eucaristia
V. 6: agradável = na graça!
d) passagens indicadas no texto original
V. 2: Rm 12.12
Ef 6.18s: mistério do evangelho = mistério de Cristo
V. 5: Mc 4.11: a vós é dado o mistério do reino de Deus.
Ef 5.15: agir com sabedoria = aproveitar o tempo! V.
6: Ef 4.29: que a palavra anunciada transmita graça!
II – Algumas descobertas
– O objetivo da intercessão é para que se continue falando do mistério de Cristo.
– O ato de falar do mistério de Cristo tem por consequência a prisão.
– Agir com sabedoria é aproveitar as oportunidades para o testemunho.
– A palavra agradável é temperada com sal, é palavra que transmite graça
III – Questões abertas e meditação
– Qual o mistério, o segredo de Cristo?
– Qual o conteúdo da palavra agradável que transmite graça?
O mistério de Cristo manifesta-se aos seus santos (Cl 1.26). Tem a ver, portanto, com a história da salvação. O mistério de Cristo é o mistério do evangelho (Ef 6.18s). É a mensagem surpreendente de Deus, que se revela em Jesus. Deus escolhe a forma humana para comunicar-se conosco. E o mistério da revelação concentra-se na cruz. Aqui se mostra, de maneira incomum e singular, a característica principal da manifestação de Deus: ele se abaixa ao ponto extremo. Apresenta-se na fragilidade do homem Jesus pendurado na cruz. E a loucura de Deus, que se mostra mais sábia do que o homem (1 Co 1.25).
Através deste homem que morre na cruz e é ressuscitado no domingo de Páscoa, podemos chegar até Deus! Pela oração em seu nome temos acesso ao Pai e comunhão com ele. O nosso texto é um convite, um chamado para vivermos em atitude de oração, de comunicação com Deus. Enquanto oramos, refletimos a imagem de Deus, permanecemos na relação de filhos.
A oração é uma das marcas principais do cristão. Ela dá um caráter pessoal à fé cristã: não se trata de assimilar uma doutrina rígida e morta. Deus não é uma incógnita, uma grandeza imensa onde tudo se dissolve. O mistério de Deus se revela numa pessoa concreta, presente, encarnada completamente na realidade das pessoas. Deus é Pai que entra em comunhão viva conosco!
A oração, como marca do cristão, se caracteriza também pela atitude de agradecimento, pelas ações de graça a Deus. A oração cristã não é um exercício mental, que se esgota no íntimo da pessoa, na produção de um bem-estar e prazer psicológico. Através de Jesus a oração se projeta para fora da pessoa que ora, transcende o limite estreito da satisfação e das necessidades pessoais. Dirige-se a Deus e materializa-se no próximo. Ações de graça se concretizam nos irmãos necessitados. É neles que vamos agradecer a Deus!
O autor da Carta aos Colossenses pede para que intercedam por ele. Este pedido não tem um fim em si mesmo. A súplica é que Deus o liberte da prisão para que possa continuar testemunhando o mistério de Cristo! O testemunho do evangelho tem consequências públicas, gerando resistência e oposição. Subverto os critérios e valores humanos. O confronto resulta em prisão sofrimento, cruz.
O nosso texto fala da necessidade de agir com sabedoria, aproveitando as oportunidades para o anúncio do mistério de Cristo. Ter a sensibilidade para perceber o momento adequado. A palavra precisa ser sempre agradável. O que não significa palavra água com açúcar. Uma palavra assim não leva ninguém para a prisão! As palavras do testemunho cristão são temperadas com sal. São pala-vras que ardem. Sem elas, a vida vai estragar, apodrecer. Palavras agradáveis são palavras que transmitem a graça: a aceitação imerecida e incondicional de Deus!
Colossenses 4.2-6 é um convite à oração. Somos colocados diante de uma prática de oração engajada, vívida. Oração que se manifesta na gratidão a Deus, na intercessão em favor de outros, e que se concretiza no testemunho com consequências que vão até à prisão. A espiritualidade que se manifesta na oração é a capacidade dada por Deus para crescermos para fora de nós mesmos e da situação em que nos encontramos. Leva à comunhão solidária com os outros, considerando a realidade em que vivem: quais são as limitações, resistências, cerceamentos que irmãos na fé estão sofrendo e que dificultam ou mesmo impedem o testemunho do mistério de Cristo? (A pregação poderá desembocar no tema do ano … E sereis minhas testemunhas).
A perícope começa falando na oração perseverante e termina com a convocação para o anúncio. Oração e ação, ação de graças e testemunho são aspectos de uma mesma realidade. Não é possível separar uma dimensão da outra: oração sem ação se deturpa, degenera em religiosidade vazia e estéril. Ação sem oração, por sua vez, reduz-se a um ativismo que perde seu objetivo último.
IV – Pensando na prédica e no culto
Considerando o tópico da perícope, convite à oração, a pregação em torno deste texto não será demasiadamente expositiva, e sim, vai procurar estimular a comunidade para a prática da oração, ligada com o testemunho, e que intercede concretamente pelos irmãos em privações e sofrimentos. A prédica só limitará em apresentar alguns pontos centrais levantados pelo texto, motivadores ô uma vivência em oração.
Na montagem do culto, se abrirão espaços para que, ao longo da celebração, a comunidade experimente, ensaie momentos de oração.
Oração ê comunicação participativa. O canal foi aberto por Jesus. Somos convidados a entrar em contato com Deus, com ações de graça!
Algumas sugestões para a preparação e realização do culto:
– Antes do início do culto, apresentar o tema e colocar à disposição lápis e papel, motivando a comunidade a escrever, em breves tópicos, preocupações e expectativas a serem incluídas na oração de intercessão: situações concretas, não só pessoais e familiares, mas também necessidades, desafios da vida e missão da comunidade. Pedir para que coloquem os papéis sobre o altar.
– Na oração de confissão de pecado, estimular a participação através de orações silenciosas. Motivar também a participação em voz alta!
– Na oração de intercessão, informar que cada motivo de intercessão será concluído com as palavras Transforma a nossa vida, Senhor, que serão proferidas a seguir pela Comunidade. Iniciar com os motivos de intercessão registrados nos papéis sobre o altar. Após, incluir as demais intercessões.
V – Subsídios litúrgicos
1. Intróito: Estamos aqui reunidos como comunidade de Jesus Cristo para juntos celebrarmos este culto a Deus. Somos convidados a colocar nossa confiança em Deus, a contar com ele em tudo o que nos toca, também o que está acontecendo com as outras pessoas. Podemos orar a Deus. Ele vai nos ouvir. Por isto: Cantemos louvores ao trino Deus.
2. Confissão de pecado: Senhor Deus. Nós sabemos que podemos chegar a ti em qualquer momento da vida. Mas precisamos reconhecer que são poucas às vezes em que dizemos a ti o que se passa conosco. Procuramos resolver as dificuldades e problemas por conta própria. Agimos sem antes parar para colocar diante de ti as nossas preocupações e intenções. Não confiamos em teu poder, na tua presença, na tua vontade em nos ajudar. Estamos voltados para dentro de nós mesmos, preocupados conosco mesmos. É por isto gue perdemos o rumo, fazemos tanta coisa errada, deixamos de fazer o principal. E por isto também que não oramos em favor de outras pessoas, não consideramos as suas necessidades, privações, sofrimentos. Tudo isto revela a situação de pecado em que estamos. E não conseguimos sair dela sozinhos. Tu precisas no ajudar com o perdão e a graça que tu revelaste em Jesus Cristo. Dá-nos orientação e luz.
Momento para oração silenciosa: Nós vamos ter agora um momento para que cada um de nós possa colocar, em silêncio ou em voz alta, seus sentimentos e preocupações diante de Deus.
Porque podemos confiar que Deus ouve nossas orações, nós suplicamos: Tem piedade de nós, Senhor.
3. Anúncio da graça: Quando confessamos arrependidos a nossa situação de pecadores, diante de Deus e dos irmãos, recebemos o anúncio da palavra de perdão e de graça: Deus está perto dos que estão desanimados, e salva os que perderam a esperança (SI 34.18). Por Deus ser assim, cantamos com alegria: Glória a Deus nas maiores alturas!
4. Oração de coleta: Deus e Pai. Em teu nome nos reunimos para escutar a palavra que tu nos anuncias através de Jesus Cristo. Graças te damos porque tu és Deus vivo, que te inclinas para nos ouvir. Podemos falar contigo, louvar e agradecer, pedir por nós e pelos outros, chamar-te para dentro das nossas dificuldades e esperanças. Dá-nos o teu Espírito para podermos ouvir a voz que vem de ti. Por Jesus Cristo, nosso irmão e Senhor. Amém.
5. Oração de intercessão: No início, fazer as intercessões colocadas sobre o altar. A seguir, intercessões como as abaixo, além de outras que consideram a realidade específica por ocasião da celebração do culto.
– Senhor, intercedemos pelos irmãos que encontram dificuldade em testemunhar o teu evangelho, que sofrem resistência em transmitir a tua vontade. Dá-nos disposição para irmos ao encontro deles e acompanhá-los em sua tarefa. Transforma a nossa vida, Senhor.
– Senhor, intercedemos pelos que passam por privações e necessidades porque nós não anunciamos a tua palavra que arde e que fere aos que causam esta situação de sofrimento e de morte. Transforma a nossa vida, Senhor,
– Senhor, dá sabedoria e coragem para que esta tua comunidade apro¬veite as oportunidades de anunciar a palavra que transmite graça e vida. (Mencionar casos concretos da situação local.)
VI – Bibliografia
– CONSELHO Mundial de Igrejas. Eine Spiritualitaet fuer unsere Zeit. Genebra, 1986.
– VOIGT, G. Meditação sobre Colossenses 4.2-4 (5-6). In: —————. Die himmlische Berufung. Göttingen, 1981.