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Prédica: Isaías 42.1-4(5-9)
Leituras: Marcos 14.12-26 e Apocalipse 19.6-10
Autor: Geraldo Graf
Data Litúrgica: Quinta-Feira da Paixão
Data da Pregação: 02/04/2015
Proclamar Libertação – Volume: XXXIX

1. Introdução

Houve uma recolocação do texto. Anteriormente, a perícope era indicada para o 1º Domingo após Epifania. O foco estava centrado no batismo de Jesus e em sua revelação como enviado de Deus para a salvação do mundo. Ao indicá-la para a Quinta-Feira da Paixão, foca-se o aspecto sacrifical do Servo de Deus em favor da libertação de todos os que vivem caídos e sem perspectivas. Os textos de Mc 14.12-26 e Ap 19.6-10 relacionam Jesus Cristo diretamente com o Servo de Deus: sua vinda, sua missão, seu sofrimento e sua vitória – sempre marcados pela presença e ação misericordiosa de Deus.

2. Exegese

Isaías 42.1-4(5-9) é o primeiro dos quatro hinos do Servo de Deus (os demais encontram-se em Is 49.1-6; Is. 50.4-9; Is. 52.13-53.12). Esses hinos fazem referência a um “servo de Deus” (Ebed Jahweh) que é apresentado por Deus com uma missão que transcende as fronteiras de Israel. Por sua total obediência, esse servo suporta sofrimento e morte. Também ele experimentará o “galho trincado” e o “pavio fumegante”. Porém Deus estará com ele. O galho não se quebrará, e a lamparina não se apagará. Essa mensagem vale para todos os povos e manifestará a justiça e a misericórdia de Deus.

A tradução de Ebed como “servo” não contempla suficientemente o significado da palavra. A escolha por “servo” aconteceu devido à sua característica de humildade e total obediência a Deus (em Fp 2.7-8, essas características são atribuídas a Jesus). Daí a possível escolha pela tradução “servo”. Ebed também pode ser traduzido por “emissário”, “funcionário de confiança”, que se desincumbe de uma missão importante. O envio desse “servo” acontece por unção do Espírito Santo (Is 11.2; Is. 61.1).

Quem é esse “Servo de Deus”? Seria o próprio povo de Israel – ideal ou real? Seria um determinado profeta ou um governante? Seria o próprio autor do texto? Em Mt 12.15-21, aponta-se para Jesus Cristo (veja também At 3.13,26; At 4.27,30). Não esqueçamos o texto de Mt 4.17 (e paralelos), em que a palavra “Servo” é substituída pela palavra “Filho” (relacionando a eleição do Servo com o batismo de Jesus Cristo). O Novo Testamento testemunha que, na presença e na ação de Jesus Cristo, cumprem-se as profecias acerca do Servo de Deus.

As metáforas do “galho trincado” e do “pavio fumegante” apontam para antigos símbolos do Direito. O galho quebrado e a lamparina apagada representam a condenação à morte. É juízo definitivo. Não há escapatória. Essa era a situação dos israelitas no exílio na Babilônia. Essa também é a realidade do pecador perante a justiça de Deus. O galho trincado remete à situação dos exilados. Por ter rompido a aliança que Deus fizera com seu povo eleito, Israel sofreu a invasão de potências vizinhas e foi subjugado. Antes pelos assírios, agora pelos babilônios. A classe dominante foi deportada e forçada a se estabelecer na Babilônia. A intenção era evitar que os remanescentes na terra de Israel alimentassem sonhos de libertação. Essa prática visava à extinção de Israel como nação. Outros povos passaram por esse processo e deixaram de existir.

Porém Isaías anuncia que o Servo de Deus virá com uma mensagem surpreendente: a pena não será mais executada. Deus é misericordioso. Assim, através do anúncio do profeta, os exilados são reanimados em sua esperança e mantêm intacta a sua consciência de povo de Deus. Por isso o galho trincado não será destruído e poderá florescer novamente; o pavio fumegante não se apagará, mas sua luz voltará a brilhar – tudo isso pela justiça e misericórdia divinas. Essa misericórdia de Deus também se aplicará ao servo. Mesmo rejeitado e perseguido, sua luz não se apagará.

O v. 2 mostra o jeito desse servo se apresentar: ele não vem com gritaria nem grande alarde (violência ou marketing). Ele virá com mansidão e se voltará para os que estão caídos e que são considerados imprestáveis. Ele não os lança fora. Ele não é exterminador. Ele é restaurador, salvador (maiores detalhes exegéticos veja no PL 35, p. 69ss).

3. Meditação

Isaías 42.1-4 (5-9) faz parte da mensagem do Segundo Isaías (550-540 a.C.) aos exilados israelitas na Babilônia. O profeta anuncia a vinda de um Servo de Deus que vivenciará a vontade divina para as pessoas e com as pessoas.

Não se sabe ao certo quem será esse servo. Trata-se de um mensageiro, eleito e ungido, que deve anunciar, em nome de Deus, a mudança da situação dos exilados: de uma situação desesperadora, sem saída, para a misericordiosa libertação oferecida por Deus. Parece que esse servo não será levado a sério, tal o desespero e o sofrimento das pessoas. Elas o rejeitam e perseguem por achar que ele as ilude com falsas promessas. Essa é a leitura que o Novo Testamento faz da profecia ao relacionar o Servo com Jesus Cristo. Se o Servo também for o próprio povo de Israel (Is 41.8), como alguns presumem, então transparece a missão comunitária do testemunho da justiça e da misericórdia de Deus. Também hoje!

À luz do Novo Testamento, relacionamos a missão do Servo de Deus com a vinda de Jesus Cristo. Nele se cumpre tudo o que o profeta anunciou. Na Quinta-feira da Paixão, além de celebrar a Ceia com os seus discípulos, Jesus Cristo também lavou os pés deles numa clara demonstração de amor e serviço. “Servo”, “servir”, “serviço” não são palavras estranhas, mas são a clara descrição do agir de Deus por meio de Jesus Cristo. Deus envia o seu mensageiro – o seu Servo, o seu Filho. Através dele haverá salvação.

Isaías não cita o nome desse servo. Já o Novo Testamento aponta para Jesus Cristo e proclama: “A luz gloriosa do Senhor brilhou…” (Lc 2.9); “Este é o meu Filho amado…” (Mt 3.17); “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo…” (Jo 1.29). Jesus revelou às pessoas e vivenciou com elas a experiência de serem amadas por Deus apesar de seus pecados. Jesus lhes possibilitou a oportunidade de se tornarem filhos e filhas de Deus – também aqueles e aquelas com uma vida atribulada, cheia de sofrimentos ou de culpa.

O Servo de Deus – Jesus Cristo – não quebrará o galho trincado ao se dirigir à humanidade decaída. Ele não apagará a lamparina que fumega, uma derradeira faísca de esperança. Ele reerguerá as pessoas e restaurará sua alegria e sua esperança. No batismo de Jesus, Deus declarou: Eis o meu Filho (meu Servo, meu Enviado). Este é o meu eleito, que me dá muita alegria (Mt 3.17). Eu lhe dei o meu Espírito. Ele anunciará a minha justiça aos povos.

Essa missão também cabe a nós como corpo de Cristo, como eleitos de Deus e ungidos no Batismo para ser “sacerdócio real” (1Pe 2.9). Somos chamados e enviados para ser solidários com todas as pessoas que necessitam de uma palavra e de uma ação concreta de apoio, de esperança, de restauração. A comunidade exerce hoje essa função de reerguer os galhos trincados e de reabastecer as lamparinas fumegantes com o fantástico anúncio da justiça e da misericórdia de Deus.

4. Imagens para a prédica

Deus não quer a destruição, a extinção de seus eleitos. Ele oferece vida, e vida em abundância. O Servo de Deus – Jesus Cristo – veio para colocar em prática esse maravilhoso projeto de Deus. O “galho trincado” recebe o cuidado e a chance de se reerguer e voltar a florescer. O “pavio que fumega” remete às antigas residências do tempo do profeta. Quando uma lamparina começava a fumegar, era sinal de que o fogo estava se apagando. Era urgente a necessidade de reabastecimento da lamparina com óleo. O pavio que fumega aponta para o perigo de deixar a casa na mais completa escuridão. O galho precisa receber um “curativo”, ser restaurado para permanecer vivo. A luz precisa ficar acesa para que as pessoas da casa possam enxergar umas as outras. Perguntado sobre quando inicia o dia, um rabino respondeu: “O dia inicia quando eu consigo enxergar o rosto das pessoas e reconhecer nelas meus irmãos e minhas irmãs”.

O pregador poderá ilustrar a realidade do povo diante do juízo de Deus apresentando um galho trincado e uma lamparina fumegante. Fazendo o curativo no galho e reabastecendo a lamparina para que sua luz volte a brilhar, apontará para a missão do Servo de Deus – Jesus Cristo. E, por sua vez, mostrará qual é a missão da comunidade.

Vivemos em uma época que exige cada vez mais das pessoas. Para ser reconhecido e valorizado, o indivíduo precisa produzir muito e mostrar competência. Quem não se enquadra nesse processo está fora, é descartado. Existem muitas pessoas “galho trincado” e “pavio fumegante”, não apenas por desobediência a Deus, mas por ser vítimas de um sistema cruel, explorador e escravizador, que mata a identidade e descarta quem considera imprestável.

O Servo de Deus – Jesus Cristo – veio com uma proposta totalmente diferente: ele veio para fortalecer a fé fragilizada, reacendendo a esperança dos caídos, veio para revelar a justiça e a misericórdia de Deus aos abatidos (seja por culpa, seja por exploração). Deus reescreve a história do mundo, incluindo os fracos. Neles ele manifesta o seu profundo amor.

O galho trincado precisa receber um curativo. O óleo da fé, da esperança e do amor precisa reabastecer a vida das pessoas. Esta também é nossa missão: orar, agir e servir para que a solidariedade e o amor se manifestem. O Servo de Deus – Jesus Cristo – vem a nós e insere-se em nossa vida comunitária e social. Ele nos dá o exemplo e ensina-nos a consolidar a comunhão entre as pessoas. Ele vem para que sejamos uma bênção para os outros. Tem sofrimento e cruz? Tem! Mas Deus está conosco. Pelo seu Servo ele nos liberta e salva.

Uma história pode ilustrar a missão do servo-mensageiro de Deus: Dois bons amigos frequentaram juntos a mesma escola durante sua infância e adolescência. Depois eles estudaram na mesma faculdade. Então seus caminhos separaram-se, e eles perderam o contato um com o outro. Um deles tornou-se juiz e era temido por sua dureza nos julgamentos. O outro enveredou por caminhos tortuosos. Um dia, um transgressor foi levado a julgamento perante o juiz. O juiz reconheceu logo que o réu era o seu amigo de infância. O que fazer? Como juiz, precisava fazer valer a justiça. Como amigo, gostaria de ser misericordioso com seu amigo. Finalmente, o juiz deu o veredito: O réu precisava pagar uma pesada multa. Isso foi justiça! Em seguida, o juiz levantou-se de sua cadeira e desceu até onde estava o réu. Preencheu um cheque no valor da multa e entregou-o a seu amigo de infância. Isso foi amor!

5. Subsídios litúrgicos

Intercessão

Um: Senhor, nós suplicamos pelas pessoas que são como galhos trincados, caídas no chão.

Todos: Senhor, tem compaixão!

Um: Senhor, nós suplicamos pelas pessoas que têm medo da vida, das enfermidades, da perseguição de outras pessoas.

Todos: Senhor, tem compaixão!

Um: Senhor, nós suplicamos pelas pessoas que vivem irresponsavelmente. Mostra-lhes novos caminhos.

Todos: Senhor, tem compaixão!

Um: Senhor, nós suplicamos pelas pessoas que são afetadas em sua dignidade.

Todos: Senhor, tem compaixão!

Um: Senhor, suplicamos pelas pessoas que exercem o poder, para que ouçam a tua palavra e se submetam à tua vontade.

Todos: Senhor, tem compaixão!

Bibliografia

HAHN, Jörg. Der Gottesknecht mir der Botschaft der Begnadigung. In: Zuversicht und Stärke – Predigthilfen – 6. Reihe, Heft 1. Holzgerlingen: Hänssler Verlag, 2002.
SCHÄFER, Michael. Predigt über Jesaja 42, 1-4. Spiesen-Elversberg – 2014. In: Predigtdatenbank – www.predigten.de


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