“Aprendemos a voar como pássaros, e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos”. Martin Luther King
O desafio é superarmos a indiferença, o preconceito, a discriminação e convivermos como irmãos e irmãs, na diversidade da família da raça humana. O texto abaixo nos ajuda nisso.
No dia 17 de julho estivemos em Campo Verde, Mato Grosso. Leda e eu saímos de casa às 6h. Apreciamos a diversidade da vida pelo caminho, indo por Chapada dos Guimarães, durante os 145 km do percurso de Cuiabá para Campo Verde. Ainda cedo, havia poucos carros circulando. Assim, foi possível ver e ouvir mais a vida e as paisagens naturais.
O mirante, em Chapada, neste domingo de manhã, apresentou-se imponente e cuidadoso. Imponente, pela beleza, as lindas paisagens da natureza: florestas, flores, cachoeiras, lavouras, montanhas e planícies. Na paisagem, no encontro entre céu e terra, no horizonte, havia um verdadeiro espetáculo da criação de Deus. Cuidadoso, pela necessidade de respeitar limites. Sim, limites, porque os precipícios e as dificuldades de acesso ao meio natural significam que, em termos de criação de Deus, nem tudo pode ser modificado pelo ser humano. A interferência humana no curso na natureza tem limite.
Chegamos em Campo Verde. Rápida passada pelo templo da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB) local, encontramos pessoas ocupadas com os preparativos do almoço comunitário. Vivemos conversas entusiasmadas com café, chimarrão, planos e culto, com amizade e compromisso.
Seguimos para a Igreja da Anunciação, da Comunhão Anglicana. Encontramos muitos amigos, amigas. Fomos recebemos pelo reverendo Tamaki e sua esposa Sachiko. Alegria no encontro, cumprimentos, saudações. Nosso principal objetivo da viagem foi participarmos da Celebração de Ação de Graças dos dez anos de lançamento da pedra fundamental da Paróquia Anunciação, em Campo Verde.
Às 10h, iniciou a Celebração de Ação de Graças. Estavam presentes membros da Igreja Anglicana de várias cidades de Mato Grosso, de Mato Grosso do Sul e de Rondônia, clérigos e não-clérigos.
A celebração coincidia com o encerramento do Concílio Distrital Missionário da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB). Presentes estavam, também, membros da Igreja Católica Apostólica Romana, IECLB, Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), do Movimento Ecumênico de Apoio, do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI) e do Conselho Nacional de Igrejas Cristãos do Brasil (CONIC).
A celebração foi presidida pelo bispo primaz da IEAB, dom Mauricio Andrade, nosso amigo, de Brasília. Acolheu carinhosamente a igreja reunida junto com os visitantes, num clima de oração, comunhão fraterna e testemunho de fé e vida.
Dom Maurício é conhecedor dessas terras e povos, porque já esteve presente em outros momentos importantes da Igreja. Coube ao reverendo Josias fazer uma breve memória da atuação da IEAB na região do Centro Oeste até Rondônia, a partir da década de 1970. Ao bispo Almir dos Santos coube a pregação da Palavra.
Bispo Almir é testemunha viva das lutas em favor da vida e dignidade de povos que, muitas vezes, são empurrados para o lado. Luta pela Igreja que não deixa ninguém fora e que está em sintonia de solidariedade real com os povos indígenas, sendo um dos articuladores e apoiadores históricos do Grupo de Trabalho Missionário Evangélico (GTME). Entre diversos clérigos da IEAB estava presente, também, o reverendo Arthur Cavalcante, secretário geral da IEAB.
Participamos da Celebração dos dez anos. Dez são os dedos das duas mãos. Quantas mãos estiveram à disposição na construção da igreja, onde ninguém fica fora? Dez são os mandamentos de Deus. O primeiro mandamento indica o caminho, quando Deus diz: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da Servidão.”
A Igreja de Jesus Cristo, como disse dom Maurício, testemunha a vida e edifica comunhão, na liberdade dos filhos e das filhas do Senhor. Essa é a nossa esperança. Jesus Cristo é a razão da nossa esperança. Por causa de sua ação de amor e misericórdia é possível nossa reconciliação e a vivência na paz e justiça. Podemos confessar com dom Pedro Casaldáliga: “Eu creio na justiça e na esperança”.
Dez são os dedos dos pés. São os pés que carregam o corpo. O último dedo, o menor de todos, quase invisível, tem a função de informar ao restante do corpo se estamos de pé ou não. Ele é o encarregado de cuidar do equilíbrio do corpo.
Ninguém pode ficar fora, nem mesmo o menor de todos. A Confissão de Augsburgo, de Confissão Luterana, testemunha que não há ninguém acima de Deus, nem à sua altura, dizia meu prof. Dr. Martim Dreher. Deus olha e caminha em direção ao seu povo. Ele vê e encontra por primeiro quem está em último lugar na fila para ouvi-lo e se solidarizar com ele/ela. O mundo é realidade de filas e exclusões. No Reino de Deus não há primeiro nem último lugar. Há convivência de irmãos e irmãs. Há comunhão no Senhor. As diferentes igrejas, no conjunto dos fiéis, portanto, vivem, testemunham e estão a serviço do Reino de Deus, do novo céu, da nova terra, do novo mundo de justiça, paz e vida, sem primeiros, nem últimos.
Podemos participar, aprender e conviver jeitos de diferentes irmãos e irmãs. Esperamos boas melhoras em convívios. Mas não esperamos de braços cruzados. A prática nos remete às palavras de Paulo Freire, para quem “a esperança não é um cruzar de braços e esperar. Movo-me na esperança, enquanto luto, e se luto com esperança, espero.”
Após a Celebração de Ação de Graças, fomos recepcionados com um almoço, na Paróquia da Anunciação. Diálogo, amizade, partir do pão, oração foram alguns aspectos relevantes do encontro. Agradecemos a Igreja Anglicana de Campo Verde, porque ela nos proporcionou um domingo muito gratificante e compromissado com ecumenismo, na convivência como irmãos e irmãs.
Teobaldo Witter é pastor da IECLB e reside em Cuiabá.
Fonte: ALC