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Deuteronômio 6.4-13 – TRINDADE

Prezada Comunidade !

I

Hoje é o Domingo da Trindade. Trindade! O que é isso? É claro, todos sabem: é o termo que designa Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Trindade, a inimiga da matemática. É um ou são três? Desde os nossos primeiros contatos com o cristianismo temos aprendido que não é um nem são três, mas três em um ou um em três. Afinal, uma confusão, uma absoluta falta de lógica. Um é um e três são três. Como é que um pode ser três e três podem ser um? Parece que, para entender a Trindade, é preciso pôr por terra toda a lógica e esquecer a matemática que aprendemos na escola. 

E se, a par de tudo isso, ainda considerarmos que no Novo Testamento nunca aparece o termo Trindade, que este conceito só surgiu bem mais tarde e que, portanto, não está preso às origens do cristianismo – se considerarmos tudo isso, chegamos facilmente à seguinte pergunta: Por que não abolimos esse conceito que nos traz tanta confusão, que exige malabarismos matemáticos e que nunca foi empregado nas origens da Igreja? É exatamente isso que vamos examinar hoje: O conceito da Trindade ainda tem algo a nos dizer, ou deve ser abandonado? 

II

Vamos começar, curiosamente, apelando mais uma vez para a história do antigo povo de Israel. Aquele povo teve uma história movimentada. No transcorrer desta história aconteceu que os israelitas emigraram para o Egito, e lá passaram a viver em grande miséria, como escravos, sob a opressão violenta dos donos da terra. Um dia apareceu entre eles um homem dizendo o seguinte: Minha gente, o Senhor, Deus, me mandou para liderar vocês; ele quer ajudar vocês a sair desta miséria. 

E foi o que aconteceu. O povo conseguiu fugir do Egito. E mais, o povo sentiu que sozinho nunca teria se libertado das poderosas forças ao faraó. O povo sentiu que o Senhor é que tinha entrado no jogo. E deste fato tiraram uma importante conclusão: Este Deus nos quer bem, ele nos ajudou; este Deus sozinho é muito mais potente do que todos os supostos deuses dos egípcios; este Deus é forte e ajuda os seus com atos bem concretos. Ele é o único Deus. 

E os israelitas foram fazendo a mesma experiência ao longo da sua jornada pelo deserto, a experiência de que este Deus era um só Deus, um Deus potente, que ajudava concretamente na história, e que este Deus tinha escolhido este povo, os israelitas, e se dedicava a este povo de modo todo especial e exclusivo. 

Pois bem, às vésperas de entrar na terra que Deus tinha prometido aos ancestrais de Israel, ao final de toda a peregrinação pelo deserto, Moisés reúne o povo e profere um importante discurso. Este discurso se encontra na Livro do Deuteronômio, capítulo 6, e diz o seguinte: 

Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é um só Senhor! Portanto, amarás o Senhor, teu Deus, com todo o coração, com todo o teu ser e com toda a tua força. Estas palavras, que hoje te ordeno, tomarás no teu coração. Tu as incutirás nos teus filhos e delas falarás quando te demorares em tua casa, quando estiveres andando pelo caminho, quando te deitares e quando te levantares. E as atarás como sinal na tua mão e serão uma marca na tua testa. E as escreverás nos umbrais da tua casa e nas tuas portas. E quando o Senhor, teu Deus, te tiver conduzido para a terra, a qual jurou a teus pais Abraão, Isaque e Jacó que te daria – cidades grandes e bonitas que não construíste, e casas cheias de tudo o que bom as quais não encheste; poços abertos que não abriste; parreirais e olivais que não plantaste – e quando então comeres e te fartares, cuida-te para não esquecer o Senhor, o qual te tirou da terra do Egito, da casa da servidão. O Senhor, teu Deus, temerás, a ele servirás e pelo seu nome jurarás.

III

Este texto vai ajudar-nos a resolver o problema da Trindade. Há três pontos que eu gostaria que os senhores observassem: 

1º. – Moisés proclama aqui uma sentença de fé: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é um só Senhor Estas palavras soaram como o maior dos absurdos, no lugar e na época em que foram proferidas, Israel vivia cercado de povos que tinham verdadeiros batalhões de deuses: o deus do sol, da lua, da tempestade, da fertilidade, das águas, de enfermidades, da guerra, do amor, e assim por diante. Dentro deste ambiente, dizer: O Senhor, nosso Deus, é um só Senhor! Ê o único! Ao lado dele não há outros! é o absurdo dos absurdos. É um absurdo libertador. Se eu sei que o meu Deus é o único e que este Deus me quer bem, se dedica a mim, então eu não tenho mais nada que temer. 

2º. – Como é que Moisés chega a fazer esta afirmação? O Senhor, nosso Deus, é um só Senhor! Como é que ele descobre isso? Através do raciocínio, da lógica? Era Moisés um filósofo, dono de uma capacidade intelectual acima da média, que com uma refinada teoria conseguiu provar a existência de um único Deus? Foi juntando argumentos e teses que ele chegou a esse ponto? A concepção do único Senhor foi fruto da sua razão? 

Não, prezada comunidade! E isto é muito importante. Moisés fala de um sê Senhor, não baseado na razão, no raciocínio, na lógica, mas na EXPERIÊNCIA. Moisés e o povo experimentaram praticamente esta realidade. Eles sentiram na carne que Deus os tirou do Egito, os conduziu pelo deserto e os trouxe até as portas da Terra Prometida. Através daqueles atos salvadores Deus lhes comunicou: Eu sou um só Senhor, o vosso Deus. E os israelitas o sentiram, e compreenderam. Não com a razão, mas com o coração. Eles viveram o devotamento, a dedicação de Deus. Por isso, podem proferir esta sentença de fé: 0 Senhor, nosso Deus, é um só Senhor! 

3º. – Assim como esta sentença de fé não se baseia na razão e não parte do raciocínio, assim ela também não apela para a razão. Ela não convida á discussão sobre sua viabilidade ou não. Ela apela, isso sim, para a vontade, e chama á ação. A compreensão deste testemunho de fé tem consequências imediatas bem concretas: amor ilimitado a este Deus único que se dedica ao seu povo; a necessidade de passar adiante o que se sabe sobre este Deus, de transmiti-lo a todo mundo. Tu incutirás (estas palavras) nos teus filhos e delas falaras, quando te demorares em tua casa, quando estiveres andando pelo caminho, quando te deitares e quando te levantares. E as ataras como sinal na tua mão e serão uma marca na tua testa. E as escreverás nos umbrais da tua casa e nas tuas portas”. Outras consequências: obediência à vontade deste Deus na vida cotidiana, servir-lhe, agradecer-lhe. 

São estes três elementos que ficam bem evidentes no nosso texto: 1º. – Trata-se de uma sentença de fé, de um testemunho; 2º. – esta sentença de fé não se baseia na razão, mas na experiência que se fez; 3º. – a proclamação desta sentença de fé não apeia para a razão, mas para a vontade, para a fé, e chama à ação. 

IV

Agora, prezada comunidade, aquela sentença de fé O Senhor, nosso Deus, é um só Senhor! – não foi a única nem a última coisa que Deus deu a conhecer aos homens a respeito de si mesmo. Houve outras sentenças de fé. E uma dessas outras sentenças de fé é exatamente esta que nos preocupa hoje: a que fala da Trindade, a que fala de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Não é mais a afirmação da existência de um único Deus. Agora é mais: a afirmação de que Deus atua como Pai, Filho e Espírito Santo.

E aqui eu pergunto como antes: Como é que cristãos chegaram a fazer esta afirmação de que existe Deus Pai, Filho e Espírito Santo? Como descobriram isso? Através do raciocínio, da razão, da lógica, da filosofia, de argumentos? Não, também aqui os cristãos o descobriram pela EXPERIÊNCIA. Como lá pelo 2º. milênio antes de Cristo Deus fez saber aos homens, pela experiência, que ele era um único Deus e queria bem a este povo; da mesma forma, mais de um milênio mais tarde, ele faz saber outras novidades a respeito de si, a um punhado de homens, os apóstolos. Faz saber – pela experiência, faz com que eles sintam. 

O que foi que aqueles apóstolos experimentaram? A sua experiência foi a seguinte: 

1º. – Descobriram que aquele Deus, que outrora tinha tira-do o povo do Egito e o conduzido até a Terra Prometida – que aquele Deus veio viver entre eles na pessoa de Jesus Cristo. Descobriram que neste Jesus Cristo Deus sacrifica a si mesmo pelos pecados dos homens. Descobriram neste Jesus Cristo um aspeto totalmente inédito de Deus: Deus me aceita, pecador como eu sou, ruim como eu sou; basta que eu lhe confesse tudo e confie na sua bondade. Então ele me aceita e eu estou salvo. Salvo. Deus quer me salvar. Deus me ama. Esta é a primeira experiência dos apóstolos. A experiência que tiveram com Deus em Jesus Cristo, nas suas palavras, na sua ação, na sua morte e ressurreição. 

2º. – Depois do desaparecimento de Jesus, descobriram mais uma coisa. Descobriram que eles tinham capacidades (antes desconhecidas) de passar adiante a sua experiência. Descobriram mais que os outros entendiam esta experiência, ganhavam forcas dela e passavam a viver também desta experiência. E os apóstolos perceberam que esta capacidade não era deles; que Deus é que falava por seu intermédio; que Deus é que estava atuando através deles; que Deus é que dava aos ouvintes capacidade de entender. Deus, o Espirito Santo. Aquele, cuja vinda Jesus tinha anunciado.

Estas experiências dos discípulos aumentaram a imagem que se tinha de Deus. Os cristãos descobriram então que Deus, o mesmo Deus, o único Senhor, atua entre os homens de três formas diferentes. 1º. – Como o Criador, como o Deus que interfere pelos seus na história; 2º. – como o Deus que se sacrificou para dar salvação e vida eterna aos homens; 3º. – como o Deus que ajuda a passar adiante e a entender esta mensagem.

E a isto tudo os cristãos deram, com o tempo, o nome de Trindade. Trindade! Uma construção filosófica? Não! Produto do raciocínio e da razão do homem? Não! Mas experiência: Experiência viva e palpitante, sentida na carne. Experiência transmitida por Deus. 

Meus caros paroquianos, se entendermos assim a Trindade, ela deixa de ser um peso absurdo, um estorvo, ela deixa de exigir malabarismos matemáticos. Se a entendermos assim, como ela quer ser entendida, a Trindade, toda essa experiência dos primeiros cristos se transformará numa fonte de força para nós. Uma fonte de força e energia para vencermos a nossa lida cotidiana, para encontrarmos um sentido e uma finalidade na nossa vida. Se entendermos com o coração a Trindade, entenderemos que vida mesmo é aquela que retribui a experiência recebida, que ama porque foi amada, que se entrega porque Deus se entregou por ela. Ê isso o que Deus tinha a nos transmitir hoje. Uma noticia boa, uma notícia confortante, neste Domingo da Trindade. Amém. 

Oremos: Senhor, tu és um só. Na tua graça agiste entre nós de formas variadas para que melhor pudéssemos entender-te. Senhor, faze-nos compreender, com todo nosso ser, a riqueza que se expressa no termo Trindade. E dá que esta riqueza e esta compreensão nos deem forças e energia para uma vida que tenha sentido, para uma vida dedicada a ti. Amém.

Veja:
Nelson Kirst
Vai e fala! – Prédicas
Editora Sinodal
São Leopoldo – RS

 

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